Por: Agência Brasil
RECIFE / SÃO PAULO
A organização interna do Almeida Advogados segue modelo diferente da maioria das bancas. Em vez das áreas tradicionais do direito, setores verticais da economia. Com a segmentação por núcleos de negócios dos clientes, o escritório paulista, que completou 10 anos em junho, espera dobrar de tamanho só neste ano.
Segundo o sócio fundador André de Almeida, com a expansão, os principais planos incluem a abertura de uma filial nos Estados Unidos e investimentos ainda maiores no setor de petróleo. “Temos clientes na área e precisamos desenvolvê-la ainda mais”, diz Almeida.
Dentro da banca, há áreas como tecnologia da informação, mineração, energia, aviação, comércio internacional, esportes, imobiliário, aeronáutico, além de atendimento para empresas concessionárias de serviços públicos. Dentro delas, há práticas multidisciplinares típicas de escritório full service.
“O trabalho tem maior coerência com o negócio do cliente, que fica mais bem atendido”, explica. Se um concessionário chega com algum problema e aquela mesma equipe já viu problemas similares de diversos clientes, fica tudo mais fácil. Se o assunto fosse pulverizado dentro do escritório por setores, o conhecimento e a cultura interna se perderiam”, diz.
O advogado ressalta que é mais difícil organizar essa estrutura, presente desde a fundação da banca. “Tenho advogados de tributário, trabalhista, contencioso e de outras áreas em todos os núcleos, o que exige mais gente. O advogado também vem com cabeça segmentada de forma diferente, mas depois percebe que o resultado prático é melhor”, diz.
Cada núcleo do escritório tem pelo menos um sócio. Hoje, a banca tem 100 advogados (12 sócios), 300 correspondentes, 32 mil casos de contencioso e 400 clientes ativos. Há unidades no Rio de Janeiro, Natal e Belo Horizonte e todas foram abertas por demandas setoriais: telecomunicações, petróleo e energia no Rio, imobiliário em Natal e mineração e contencioso na capital mineira. Em breve, será considerada a abertura em Brasília.
A clientela é o principal motivo para a abertura de uma unidade da banca nos Estados Unidos, que deve se concretizar em 2012: cerca de 50% dos clientes são empresas estrangeiras, grande maioria norte-americana. O restante são empresas brasileiras de grande e médio porte, concentradas no setor de distribuição de energia elétrica, tecnologia da informação, comércio eletrônico, além de Parcerias Público-Privadas (PPPs), outra grande aposta.
A área de fusões e aquisições, primeira no início do escritório, continua sendo o carro chefe. Foi em virtude das operações que houve expansão para novos setores e, em 2003, a banca mudou a orientação estratégica e abriu o leque para atender clientes de toda a natureza em todas as áreas. “Fusões e aquisições representam 40% do faturamento do escritório”, diz Almeida, que hoje preside a Inter-American Bar Association, o quarto brasileiro a ocupar o posto em 70 anos de instituição.
Recentemente, o escritório assessorou a Scansource Inc na aquisição da CDC Brasil, empresa brasileira líder no segmento de infraestrutura de TI e a gigante do setor químico Sigma-Aldrich Corporation, que adquiriu todas as ações da Vetec Química Fina. O consultivo representa 60% dos casos da banca.
Segundo o advogado, os órgãos de defesa da concorrência estão olhando as operações de concentração com mais rigor. E a fusão entre Sadia e Perdigão, que já tem um voto contrário no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e depende de negociação de um acordo entre a BRF Brasil Foods e o órgão antitruste, é “emblemático”. “As concentrações verticais e horizontais podem até ter sido de certa forma toleradas, como no ramo de siderúrgico e de cimento, mas não serão mais. O crescimento do País não pode se dar em detrimento do aparecimento do outros concorrentes”, diz.
Em 2011, segundo Almeida, os investimentos estarão concentrados em formação e pessoas — há quatro vagas de advogados em aberto. “Na nossa organização, é preciso muito treinamento. Boa parte do investimento será trazer pessoas e fazer com que elas trabalhem no nosso modelo.”
Ao contrário de muitas bancas, não há grande preparação para os eventos da Copa do Mundo e as Olimpíadas no País. A preparação feita foi instalar-se em lugares estratégicos (Rio) e criar materiais para a base de clientes sobre o que está acontecendo, como benefícios fiscais e oportunidades de negócios. “Não temos que nos preparar. Já estamos preparados. O Brasil não acaba, ele continua. Quem se prepara, vai fazer o que depois? Estamos prontos para trabalhar no Brasil, com Copa ou sem, com Olimpíadas ou sem”, aponta Almeida.
O advogado ainda critica a proibição de que escritórios estrangeiros atuem no Brasil. “Quem é o dono do mercado é o advogado, não o cliente, que buscará sempre a melhor alternativa para ele. Para ele, pouco importa a bandeira do escritório. Essa discussão camufla um tema maior, que é a qualidade do serviço jurídico”, diz.